CONTAG RECHAí‡A DIVISIONISMO SINDICAL E SE DESFILIA DA CUT

image002

A noite desta sexta-feira (13) é histórica para o sindicalismo brasileiro. A Contag (Confederaío Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), integrante do Fórum Sindical dos Trabalhadores – FST, maior entidade sindical rural do país, decidiu se desfiliar da CUT. Dos 2.559 delegados presentes no 10º Congresso Nacional da categoria, que acontece no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, 1.440 votaram pela saída da central. Apesar do uso irrestrito da máquina cutista, a proposta de manter a filiaío obteve apenas 1.109 votos.

Segundo Informações do Portal Vermelho: “A CUT jogou pesado, mas não teve jeito. A ampla maioria do plenário votou pela desfiliaío porque não concorda com a pluralidade sindical defendida pela CUT”, afirmou ao Vermelho David Wylkerson de Souza, Secretário-Geral da Contag e vice-presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). “O significado dessa mudança será uma Contag mais unida, com seus sindicatos e federações com maior poder de decisão. A votaío foi uma resposta ao divisionismo.”

Os problemas com a CUT se iniciaram com o apoio da central ao desmembramento das bases representadas pelas entidades filiadas í  Contag. As principais razões apontadas pelas lideranças para a desfiliaío foram a proliferaío de entidades que se dizem representantes dos trabalhadores na agricultura familiar e um projeto em tramitaío no Congresso que estabelece a separaío da representaío dos assalariados.

“O resultado da votaío demonstra a capacidade de entendimento político dos trabalhadores rurais em defesa de uma Contag mais autônoma, na luta pelo projeto de desenvolvimento rural sustentável”, disse no Portal CTB Pascoal Carneiro, secretário-geral da CTB, presente no Congresso da Contag.

Não ao dinheiro e í  chantagem

Segundo David, a CUT baixou o nível e apelou na tentativa de evitar a derrota consolidada nesta sexta. “Assistimos a uma aula de como não se fazer sindicalismo durante esse congresso. Muitos dos delegados relataram que, na porta de entrada do ginásio, foi oferecido até R$ 100 por crachá de delegado favorável a desfiliaío.”

Além da suposta tentativa de compra de votos, David relata que a central produziu materiais gráficos enganosos e investiu no deslocamento de cerca de 50 de seus melhores militantes para evitar a desfiliaío. “Enfrentamos um poderio econômico muito grande e pressão de toda a natureza”, disse o secretário-geral da Contag.

As denúncias vão além, segundo David. “O pior foi a chantagem. Muitos cutistas argumentaram que, se a Contag se desfiliasse, acabaria perdendo espaço de diálogo com o governo federal e não teria mais chances de obter recursos para seus projetos. Falaram em isolamento. Fizeram um verdadeiro terrorismo psicológico.”

O futuro da Contag

Sobre a filiaío a uma nova central, ele diz que o momento é de conscientizaío. “Buscaram vincular o debate da desfiliaío í  filiaío em outras centrais. Muitos cutistas tentaram queimar a CTB. Porém, o momento é de debate sobre a importância das centrais sindicais no país. í‰ preciso que se faça um trabalho de conscientizaío. A partir disso, com maturidade e sem pressão, a base poderá novamente propor a filiaío a uma nova central”, defende.

Fundada em 22 de dezembro de 1963, no Rio de Janeiro, a Contag é a maior entidade sindical de trabalhadores rurais do Brasil. Na época de sua fundaío existiam 14 federações e 475 sindicatos de trabalhadores rurais. Hoje, compõem a base da entidade 27 federações, que reúnem cerca de 4 mil sindicatos rurais e 20 milhões de trabalhadores do campo. Neste sábado, o 10º Congresso elegerá a nova diretoria da entidade. Apenas uma chapa disputa a eleiío.

Apesar da derrota, a CUT continua a ser a maior central sindical do país. Mas a histórica derrota sofrida na Contag se insere num crescente quadro de perdas cutistas — que já teve em suas bases a maioria dos sindicatos que agora estão ligados í  Intersindical, í  Coluntas e í  própria CTB.

Quadro das votações do 10º Congresso da Contag:

Total de votantes: 2.559

Eleiío da Diretoria:

O 10º Congresso da Confederaío Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) foi encerrado no sábado (14/03) com a eleiío da nova diretoria da entidade, através de chapa única encabeçada pelo atual secretário de Relações Internacionais Alberto Broch foi eleita por 97% dos delegados e delegadas que participaram do 10º Congresso, em Brasília. Pela primeira vez na história da Contag, uma mulher – a agricultora familiar Alessandra Lunas – foi eleita para a Vice-Presidência da entidade. Alberto Broch, sindicalista gaúcho é dirigente da Federaío dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), entidade que é filiada í  CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

A nova diretoria recebeu 2.389 votos. A Comissão Eleitoral registrou 54 votos nulos e 83 em branco. 78 delegados e delegadas credenciadas não votaram.

A posse dos novos diretores e diretoras está marcada para abril.

Na opinião do secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB, João Batista Lemos, a CTB “obteve um grande êxito neste congresso, tem um peso grande na nova diretoria eleita, cabendo destacar que o próprio presidente provém de uma federaío filiada í  nossa Central”.

Na avaliaío de Batista, as concepções sindicais e políticas da CTB foram amplamente vitoriosas. “A Contag reiterou a defesa da unicidade sindical, rechaçando o pluralismo e o divisionismo, apontou a luta por um novo projeto de desenvolvimento nacional, a unidade com os trabalhadores urbanos, a defesa do emprego, a convicío de que a classe trabalhadora não deve pagar pela crise, o desligamento da CUT e a autonomia frente, aprovando proposta apresentada pelos sindicalistas da CTB”, comentou.

“O Fórum Sindical dos Trabalhadores – FST vem através de sua Coordenaío Nacional e Regional nos Estados e de nossas respectivas entidades afiliada, parabenizar a nova Diretoria da CONTAG pela vitória alcançada nessa eleiío, desejando sucesso e uma excelente administraío, regada de grandes conquistas!

Fica também o nosso apoio, companheirismo e os nossos votos de lealdade para que possamos de forma unida, enfrentarmos os grandes desafios que temos pela frente” (José Augusto da Silva Filho – Coordenador Nacional do FST Nacional)

Desfiliaío junto a CUT:
Votos pela desfiliaío í  CUT: 1.440
Votos pela manutenío da filiaío: 1.109

Leia abaixo a entrevista com Alberto Broch, novo presidente da Contag:

Qual sua avaliaío sobre o 10º Congresso, que se encerra sábado com a eleiío da nova diretoria?

R- Na verdade, nós estamos hoje, sexta-feira (13) no final da tarde com os temas gerais todos votados no plenário do Congresso. A parte conclusiva das votações terminou há poucos instantes. Na minha avaliaío, este é um congresso altamente positivo pela qualidade dos debates, importância das propostas aprovadas e o comprometimento de delegados e delegadas com a luta. Terminou há pouco instante um grande debate sobre o futuro da Contag em relaío í  CUT, com três oradores que defenderam a nossa permanência naquela Central e outros três que defenderam a desfiliaío. Neste momento, delegados e delegadas se dirigem í s urnas para votaío.

Quero assinalar, em primeiro lugar, que o congresso reafirma o projeto político da Contag. O grande norte é a concretizaío de um projeto de desenvolvimento rural alternativo para o campo brasileiro, que seja sustentável e solidário. Este projeto envolve grandes planos de lutas que devem ser dirigidos por nossa confederaío na disputa de rumo para as políticas sociais, agrícolas, de reforma agrária, de desenvolvimento. Compreende o fortalecimento da agricultura familiar como a base central do novo modelo e sem dúvida nenhuma é preciso reafirmar a importância da luta para que este projeto político possa acontecer neste país. O projeto deve contemplar uma verdadeira reforma agrária, base fundamental do fortalecimento da agricultura familiar, que não será estabelecida sem luta.

O 10º Congresso também reafirmou a defesa da unicidade sindical e do fortalecimento dos sindicatos e das federações rurais para potencializar nossas lutas e concretizar nossos objetivos maiores. Reconheceu a importância das centrais sindicais e a necessidade de aperfeiçoamento dos nossos sindicatos para melhor representar os interesses da classe trabalhadora. Cabe realçar a participaío dos homens e também das mulheres e dos jovens, que têm uma relevância a cada dia maior na nossa vida sindical graças í s cotas de mulheres e de jovens, que foram reafirmadas.

Como o congresso abordou a crise econômica internacional?

R- Tivemos uma rica análise de conjuntura e debate da crise com a participaío do diretor técnico do Dieese, Clemente Granz Lúcio. O congresso reafirmou o entendimento da Contag de que nós não somos os responsáveis por esta crise. Os países capitalistas, sobretudo os mais ricos que pregaram e impuseram o neoliberalismo, são os verdadeiros culpados e devem resolver os problemas, é justo que eles paguem a conta. A classe trabalhadora, urbana e rural, não pode arcar com os prejuízos, pois não é justo.

Por isto defendemos, em união com os trabalhadores urbanos, garantia e manutenío dos empregos e o fortalecimento da agricultura familiar na perspectiva de produzir para a soberania alimentar e econômica do país. í‰ necessário formar uma grande frente para lutar contra o modelo econômico neoliberal que gerou esta crise porque sem dúvidas nenhuma suas repercussões são muito fortes e dramáticas em todo o mundo. A resposta í  crise é avançar na direío de um novo projeto de desenvolvimento, alternativo ao neoliberalismo, sustentável e solidário.

O 10º Congresso aprovou também a criaío das Secretarias de Meio Ambiente e Terceira Idade. As Comissões Nacionais de Jovens e Mulheres ganharam o status de Secretarias e haverá uma renovaío da ordem de 1/3 na próxima direío da Contag.

A UNICIDADE SINDICAL í‰ PRIMORDIAL PARA MANTER A FORí‡A DE ENTIDADES REPRESENTATIVAS DE CLASSE”
“HISTí“RICAMENTE, A CRIAí‡íƒO DE ENTIDADES PARALELAS Sí“ SERVE PARA SATISFAZER DIVERGíŠNCIAS POLíTICAS E NUNCA PARA FORTALECER A UNICIDADE SINDICAL”

José Augusto da Silva Filho
Coordenador Nacional do FST